Efêmero - Andressa Parisi |
Acabou.
Aquele corpo que se movia, pensava e sentia se transforma em
matéria inerte, como se de um momento para outro a vida simplesmente decidisse
abandoná-lo. E aí, você não é mais filho, pai, mãe, pobre, rico, feliz,
triste... É só matéria em decomposição prestes a servir de alimento para outras
vidas e lembranças. Daqui pra frente você só vive na memória das pessoas que
marcou e nos corpos de outras formas de vida que se alimentaram de suas partículas...
E se pararmos para pensar mais uma vez, talvez pensemos que
nós também sempre fomos partículas de outras formas de vida e lembranças de
coisas que marcaram nossas vidas... Então... o que somos se não um amontoado de partículas
vindas de diversos lugares e rastros emocionais de pessoas, situações, lugares,
etc? Será que, de certa forma, somos o mundo todo? Tudo o que já foi e tudo o
que vai ser? Nossas partículas constituintes vieram de tudo o que já existiu no
mundo e quando morrermos faremos parte do que virá a existir e assim
incessantemente... Talvez nunca tenhamos de fato nascido e nunca venhamos de
fato a morrer. Apenas nos misturamos ao todo e nos repartimos de novo, dando
origem a diversas formas diferentes, animadas ou não. Somos apenas um monte de
átomos que se organizam e reorganizam ao longo dos séculos...
Eu sou você, e as rochas, e o mar, e as estrelas...
Será, Raul?