Recentemente viajei para São Thomé das Letras, cheia de expectativas
de fazer trilhas, conhecer gente, curtir as cachoeiras, etc. Chegando lá, uma
baita chuva! No caminho da rodoviária para a pousada a chuva aumentou mais
ainda, nos perdemos, não achávamos a pousada e como resultado disso TODAS as
minhas coisas molharam, menos a câmera (ufa!). Com o passar das horas,
molhada, cansada, com frio e fome, o ânimo foi dando aquela murchada e pouco a
pouco as expectativas foram sendo frustradas.
O dia amanheceu e não havia
nenhum indício de melhora, continuava chovendo muito, fazia um baita frio,
minhas roupas não secavam de jeito nenhum, a cidade parecia quase vazia, sem
possibilidade de ir às cachoeiras... frustração total. Meu humor já estava
péssimo, mas foi aí que a magia dessa situação começou a aparecer: Quando você
precisa resolver coisas realmente importantes, importantes do tipo... coisas
básicas que garantem sua sobrevivência, todo o resto some da sua mente. Ocorre
uma limpeza automaticamente, e todas aquelas coisas que ficam só entulhando sua
mente se vão. É algo realmente mágico. A ofensa que você sofreu no dia anterior
e estava até agora remoendo não tem mais importância alguma. A pessoa por quem
você está interessada, e não te dá a atenção que você gostaria, não existe mais. Os
trabalhos a terminar, contratos a acertar, pessoas com as quais lidar,
tristezas para chorar, as coisas que devia ter dito e não disse... Nada disso
importa mais. Magicamente só o agora importa e naquele momento eu estava encharcada, com
frio, fome, sono... E essas coisas sim precisavam ser resolvidas. Nenhuma outra.
Então, fui resolvendo cada uma dessas coisas... A primeira
delas foi dormir. Tirei toda aquela roupa molhada, me enrolei num cobertor e
dormi por algumas horas. Ao acordar, procurei por roupas que estivessem menos
molhadas. Infelizmente, a grande maioria das minhas roupas continuava tão encharcada
quanto antes, consegui salvar uma calça que estava meio úmida e uma camiseta quase seca, arranjei um secador de cabelo emprestado e sequei uma blusa
de frio o melhor que pude, e isso não significa que ela ficou totalmente seca,
mas ficou melhor do que antes. Vestida, parti em busca de algo para comer e,
assim, resolver mais um dos problemas que tanto incomodavam.
As coisas começavam a melhorar, já estava descansada,
vestida e alimentada, só que ainda passava muito frio! Não fazia parte dos meus
planos, mas acabei comprando uma blusa de lã, não tinha como continuar sem
uma... Lá se foi meu dinheiro para ir até Sobradinho, mas naquele momento,
ficar aquecida parecia muito mais importante do que conhecer um lugar novo.
Agora sim, estava tudo bem. Um sentimento enorme de gratidão começou a brotar e,
talvez pela primeira vez, dei o devido valor a essas coisas, tão necessárias à
nossa sobrevivência e que geralmente passam de maneira despercebida por muitos
de nós.
Outro grande ganho foi a sensação de liberdade e satisfação.
Depois de todo o desconforto, suprir as necessidades básicas parecia o
suficiente, sabe? Meu cabelo estava mais desgrenhado que nunca, mas e daí?? Eu
estava alimentada! A combinação de roupas que estava usando não era das melhores,
mas... e daí???? Eu estava quente, seca e isso era tudo o que importava.
Eu estava feliz. Naquele momento, nada mais parecia fazer falta e não havia
julgamento que me atingisse (nem meu, nem de ninguém), pois eu estava
totalmente satisfeita.
O legal é que mesmo após resolver essas questões mais
urgentes e práticas, a mente continuou limpa e toda essa amplitude me
ajudou a ver coisas que eu não tinha visto antes, me proporcionou novos pontos
de vista e novos entendimentos sobre situações anteriormente analisadas à
exaustão.
Depois disso, a viagem correu ótima! Foi quase como um
presente. Hahaha
Conheci pessoas legais, fui às cachoeiras, fiz trilhas, comi
uma pizza maravilhosa e acredito que tudo pareceu melhor ainda depois do perrengue
inicial. Talvez, eu não tivesse dado o devido valor a essas coisas todas,
talvez não tivesse gostado tanto de cada palavra trocada, de cada sorriso, daquela blusa de lã de lhama fedorenta, mas tãããão quentinha que já é quase minha preferida...hahaha
São Thomé é linda demais!
São Thomé é linda demais!
Vista do Cruzeiro |
Parque Municipal Antônio Rosa |
Portal dos Ventos |
Cachoeira Vale das Borboletas |
Cachoeira Vale das Borboletas |
Cachoeira Eubiose |
Só tenho a agradecer
por toda a chuva que me tirou totalmente da minha zona de conforto e me
apresentou uma nova maneira de ver, sentir e entender.
Todas as fotos foram tiradas por mim, exceto a única em que apareço, que foi tirada pela linda Aline Dayse.
Texto muito bom... fotos lindas.
ResponderExcluirAmo vc. beijoss
Obrigada, queridona! <3
ExcluirBelo texto Andressa.
ResponderExcluirLegal o fato de vc ter tirado uma lição e algo de positivo depois de um perrengue danado. São coisas que só as viagens com mochila nas costas podem nos proporcionar... rs.
Ah, precisamos tirar o que tem de bom em tudo, né? Nada vem só pra avacalhar a vida... hahaha
Excluir