26/01/2016

SERÁ QUE A FRUSTRAÇÃO É TÃO RUIM ASSIM?



Ultimamente tenho notado como grandes frustrações podem ser benéficas em nossas vidas... 

Recentemente viajei para São Thomé das Letras, cheia de expectativas de fazer trilhas, conhecer gente, curtir as cachoeiras, etc. Chegando lá, uma baita chuva! No caminho da rodoviária para a pousada a chuva aumentou mais ainda, nos perdemos, não achávamos a pousada e como resultado disso TODAS as minhas coisas molharam, menos a câmera (ufa!). Com o passar das horas, molhada, cansada, com frio e fome, o ânimo foi dando aquela murchada e pouco a pouco as expectativas foram sendo frustradas.

O dia amanheceu e não havia nenhum indício de melhora, continuava chovendo muito, fazia um baita frio, minhas roupas não secavam de jeito nenhum, a cidade parecia quase vazia, sem possibilidade de ir às cachoeiras... frustração total. Meu humor já estava péssimo, mas foi aí que a magia dessa situação começou a aparecer: Quando você precisa resolver coisas realmente importantes, importantes do tipo... coisas básicas que garantem sua sobrevivência, todo o resto some da sua mente. Ocorre uma limpeza automaticamente, e todas aquelas coisas que ficam só entulhando sua mente se vão. É algo realmente mágico. A ofensa que você sofreu no dia anterior e estava até agora remoendo não tem mais importância alguma. A pessoa por quem você está interessada, e não te dá a atenção que você gostaria, não existe mais. Os trabalhos a terminar, contratos a acertar, pessoas com as quais lidar, tristezas para chorar, as coisas que devia ter dito e não disse... Nada disso importa mais. Magicamente só o agora importa e naquele momento eu estava encharcada, com frio, fome, sono... E essas coisas sim precisavam ser resolvidas. Nenhuma outra.

Então, fui resolvendo cada uma dessas coisas... A primeira delas foi dormir. Tirei toda aquela roupa molhada, me enrolei num cobertor e dormi por algumas horas. Ao acordar, procurei por roupas que estivessem menos molhadas. Infelizmente, a grande maioria das minhas roupas continuava tão encharcada quanto antes, consegui salvar uma calça que estava meio úmida e uma camiseta quase seca, arranjei um secador de cabelo emprestado e sequei uma blusa de frio o melhor que pude, e isso não significa que ela ficou totalmente seca, mas ficou melhor do que antes. Vestida, parti em busca de algo para comer e, assim, resolver mais um dos problemas que tanto incomodavam. 

As coisas começavam a melhorar, já estava descansada, vestida e alimentada, só que ainda passava muito frio! Não fazia parte dos meus planos, mas acabei comprando uma blusa de lã, não tinha como continuar sem uma... Lá se foi meu dinheiro para ir até Sobradinho, mas naquele momento, ficar aquecida parecia muito mais importante do que conhecer um lugar novo. Agora sim, estava tudo bem. Um sentimento enorme de gratidão começou a brotar e, talvez pela primeira vez, dei o devido valor a essas coisas, tão necessárias à nossa sobrevivência e que geralmente passam de maneira despercebida por muitos de nós.
Outro grande ganho foi a sensação de liberdade e satisfação. Depois de todo o desconforto, suprir as necessidades básicas parecia o suficiente, sabe? Meu cabelo estava mais desgrenhado que nunca, mas e daí?? Eu estava alimentada! A combinação de roupas que estava usando não era das melhores, mas... e daí???? Eu estava quente, seca e isso era tudo o que importava. Eu estava feliz. Naquele momento, nada mais parecia fazer falta e não havia julgamento que me atingisse (nem meu, nem de ninguém), pois eu estava totalmente satisfeita.
O legal é que mesmo após resolver essas questões mais urgentes e práticas, a mente continuou limpa e toda essa amplitude me ajudou a ver coisas que eu não tinha visto antes, me proporcionou novos pontos de vista e novos entendimentos sobre situações anteriormente analisadas à exaustão.

Depois disso, a viagem correu ótima! Foi quase como um presente. Hahaha
Conheci pessoas legais, fui às cachoeiras, fiz trilhas, comi uma pizza maravilhosa e acredito que tudo pareceu melhor ainda depois do perrengue inicial. Talvez, eu não tivesse dado o devido valor a essas coisas todas, talvez não tivesse gostado tanto de cada palavra trocada, de cada sorriso, daquela blusa de lã de lhama fedorenta, mas tãããão quentinha que já é quase minha preferida...hahaha

São Thomé é linda demais!

Vista do Cruzeiro

Parque Municipal Antônio Rosa

Portal dos Ventos

Cachoeira Vale das Borboletas

Cachoeira Vale das Borboletas

Cachoeira Eubiose



 Só tenho a agradecer por toda a chuva que me tirou totalmente da minha zona de conforto e me apresentou uma nova maneira de ver, sentir e entender.


Todas as fotos foram tiradas por mim, exceto a única em que apareço, que foi tirada pela linda Aline Dayse.


4 comentários:

  1. Texto muito bom... fotos lindas.
    Amo vc. beijoss

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  2. Belo texto Andressa.
    Legal o fato de vc ter tirado uma lição e algo de positivo depois de um perrengue danado. São coisas que só as viagens com mochila nas costas podem nos proporcionar... rs.

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    1. Ah, precisamos tirar o que tem de bom em tudo, né? Nada vem só pra avacalhar a vida... hahaha

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